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Presidente da ANJE Carlos Carvalho defende o ensino em linha com a transição digital

“A tendência já vinha de trás, mas é agora consolidada pelos resultados da primeira fase do concurso de acesso ao ensino superior. Os cursos nas áreas tecnológicas têm cada vez maior atratividade em Portugal e, por isso, registaram as médias de entrada mais elevadas.”

“É inequívoco que as tecnologias de ponta atraem hoje os melhores alunos e estão a conhecer uma crescente procura, aumentando paulatinamente o número de colocados nos seus cursos.

Entre os dez cursos com média mais alta encontramos a Engenharia Aeroespacial (em três instituições diferentes), a Inteligência Artificial e Ciência de Dados e a Engenharia e Gestão Industrial. Embora estas licenciaturas tenham menos vagas do que os cursos de Medicina, que eram tradicionalmente os mais desejados, a verdade é que estamos a assistir a uma mudança de paradigma no ensino superior português. As chamadas áreas STEAM (Ciência, Tecnologia, Engenharia, Artes e Matemática) estão, de facto, a cativar mais e melhores alunos.

Ora, se é de lamentar a perda de atratividade dos cursos de Medicina num país com graves problemas no setor da saúde, também não podemos deixar de nos regozijar por a procura no ensino superior português se encontrar alinhada com a dinâmica tecnológica. As nossas universidades e politécnicos estão a desenvolver competências e a criar talento em áreas críticas para o desenvolvimento, a competitividade e a afirmação internacional do país no atual contexto de transição digital.

Resta agora saber se o tecido económico português tem capacidade de absorver o capital humano que está a ser formado, ou se vamos exportar talento com conhecimento e skills em tecnologias de ponta. Apesar da mobilidade académica e laboral se afigurar muito enriquecedora para os jovens, seria frustrante para Portugal ver partir, daqui por alguns anos, muitos daqueles que acabaram de ingressar no ensino superior. Em especial, os alunos com competências fundamentais para a alavancagem tecnológica da nossa economia.

Acresce que o crescimento dos cursos e dos alunos das áreas tecnológicas aumenta o potencial empreendedor do país. Assistimos no ecossistema português, bem como em outros por esse mundo fora, à conversão de know-how tecnológico em projetos de inovação e empreendedorismo. Para criar start-ups inovadoras e desenvolver produtos, serviços e tecnologias competitivos precisamos, pois, de jovens empreendedores com competências de ponta. Só assim podemos alterar o perfil de especialização da nossa economia e reforçar os setores de maior valor acrescentado.

Por fim, importa sublinhar que esta mudança de paradigma no ensino superior português não é indiferente à evolução do mercado laboral nas economias desenvolvidas. A 4.ª revolução industrial, como lhe chamam, está a provocar a obsolescência de muitas profissões, ao mesmo tempo que promove a valorização de carreiras nas áreas tecnológicas e a criação de novos empregos em setores de ponta. Portanto, a preferência dos alunos por cursos tecnológicos vai ao encontro da transformação laboral que, inevitavelmente, ocorrerá no mercado de trabalho português.

Em suma, é auspiciosa a atratividade dos cursos de tecnologias por consubstanciar uma resposta dos jovens à transição digital, à crescente sofisticação da nossa economia, às transformações laborais da indústria 4.0 e ao desafio do empreendedorismo tecnológico. Oxalá o país saiba, nos anos que se avizinham, aproveitar cabalmente o talento que está a ser formado no nosso ensino superior.

*Artigo publicado em Link to Leaders.