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Opinião de Carlos Carvalho – “Relatório Draghi” e o gap tecnológico

“A União Europeia tem vindo a perder terreno no importante setor tecnológico para os EUA, a China e até a Coreia do Sul. As sete maiores empresas de tecnologia são norte-americanas, seguidas por duas asiáticas. Apenas 11 empresas da Europa estão entre as 100 primeiras do setor tecnológico mundial. Ora, considerando o impacto da alta tecnologia na atual dinâmica económica, é natural que a produtividade e competitividade europeias estejam a ser severamente penalizadas por este gap tecnológico.

Há várias razões para o atraso da UE no setor tecnológico face aos EUA: regulamentação apertada, mercado fragmentado, menor competitividade fiscal, sistema de financiamento pouco dinâmico, falta de cultura empreendedora, menor investimento em inovação.… Para se ter uma ideia, as cinco maiores empresas de tecnologia dos EUA investem em I&D mais do que os 27 Estados-membros da UE em sete anos.

O fosso cada vez mais profundo entre as economias da UE e dos EUA está, aliás, bem detalhado no “relatório Draghi”. O documento coordenado pelo ex-governador do BCE e antigo primeiro-ministro italiano defende que, para a Europa ser mais produtiva e competitiva, tem de acelerar a transição digital. E isso obriga, naturalmente, a um forte investimento em alta tecnologia.

É aqui que está o busílis da questão. São conhecidas as dificuldades de acesso a financiamento pela economia europeia, o que impede um investimento intensivo em setores-chave, como o das tecnologias digitais. Para além dos mecanismos de solidariedade europeus, há que criar na UE um ecossistema de financiamento robusto e diversificado que alavanque investidores privados. Isso passa pela concretização da união bancária, pela unificação do mercado de capitais, pela dinamização do capital de risco e pela atração de capital de fora da Europa.
Estes desafios vão, em princípio, ser liderados pela candidata nomeada para a pasta dos Serviços Financeiros da Comissão Europeia, Maria Luís Albuquerque. É gratificante ter uma portuguesa com a missão de captar e mobilizar investimento privado na Europa, uma necessidade também muito sentida no nosso país e que tem prejudicado o desenvolvimento do setor tecnológico nacional.

Tal como no resto da Europa, falta em Portugal, não só agilizar o financiamento comunitário às empresas (veja-se o atraso nos apoios do PRR às startups), como diversificar as fontes de financiamento, desenvolvendo em particular o capital de risco e o smart money.”

*Artigo publicado em Dinheiro Vivo.