«Queremos que a ANJE represente com clareza os agentes de mudança que são os jovens empreendedores; queremos contribuir com palavra própria e independente para uma sociedade que potencie o empreendedorismo e a ação empresarial; queremos contribuir para desconstruir fronteiras e barreiras e incentivar os negócios portugueses a internacionalizarem-se.»
Na passada quinta-feira dia 25 de julho, Carlos Carvalho tomou posse como Presidente da Associação Nacional dos Jovens Empresários para o quadrigénio 2024-2028. A Tomada de Posse dos novos Órgãos Sociais da ANJE contou com a presença do Secretário de Estado Adjunto e dos Assuntos Parlamentares Carlos Abreu Amorim e o Vice-Presidente da Câmara do Porto Filipe Araújo.
Carlos Carvalho, CEO da tecnológica Adyta e membro da direção da ANJE desde 2020, assume agora o papel de Presidente da Associação com determinação e planos para o futuro. No seu discurso de Tomada de Posse, destaca a importância da criação de oportunidades para os jovens empresários, a colaboração com a comunidade empresarial estrangeira e o papel da mulher no empreendedorismo em Portugal.
Pode consultar o Discurso da Tomada de Posse completo do Presidente abaixo.
“Estamos em 2024 e, infelizmente, é mais fácil e tentador abdicar da participação ativa nas associações civis, do que assumir a responsabilidade de as dirigir, de participar e dispensar tempo em prol de uma missão cujo objetivo final é o de contribuir para uma sociedade melhor.
Obrigado ao Miguel Moreira da Silva por liderar a Mesa da Assembleia Geral e obrigado à Catarina Azevedo por presidir ao Conselho Fiscal. Obrigado a todos os que compõem os órgãos sociais hoje empossados e que sem qualquer remuneração – como sempre acontece na ANJE – aceitam dedicar-se à causa dos jovens empresários portugueses.
Empreender pressupõe sempre uma dose de risco; acredito que, como eu, grande parte dos empresários e principalmente dos jovens empresários aqui presentes tem algum gosto em assumir risco. E é muitas vezes a forma como lidamos com ele que determina o sucesso daquilo em que empreendemos.
Pessoalmente, não nasci empreendedor, nem em família de empresários. Mas não escondo que sempre preferi ser dos que tenta fazer, do que dos que espera ver acontecer. Neste caminho, tenho tido a felicidade de encontrar pessoas, líderes e empreendedores que me inspiram e motivam. Conseguir observar o sucesso dos outros, os processos mais ou menos bem-sucedidos, ajudam-me a não ter excesso de medo de errar. Foi quando dois investigadores da Universidade do Porto me desafiaram a juntar-me à start-up tecnológica que tinham criado que iniciei o meu contacto mais de perto com a gestão empresarial, com o empreendedorismo e com a tentativa de gerar mais valor e impacto. E tem sido desde aí que tenho vindo a ganhar a certeza de que a sociedade é tão mais evoluída, desenvolvida e positiva, quanto melhor forem as empresas e os empresários. E cabe também aos empresários, não abdicar da participação na sociedade; especialmente, os jovens empresários que não podem nunca demitir-se de participar nas associações civis.
É com esse sentido de missão e de contributo que esta equipa hoje empossada exercerá o mandato. Estaremos sempre disponíveis para ouvir todos, para conversar com todos, para colaborar com todos, sempre com respeito e absoluta transparência, não abdicando nunca do nosso ponto de vista. Assumimos um compromisso de participação ativa que queremos que seja claro. Sabemos que o mundo de hoje é mais hostil e que muitas vezes essa hostilidade levanta dúvidas: na ANJE não as queremos e, por isso mesmo, implementaremos um portal de transparência onde todos poderão consultar com facilidade o que acontece na associação.
Pretendemos desenvolver uma atividade que se aproxime mais dos associados e que cative mais jovens empresários a associarem-se à ANJE. Vamos rever a política de benefícios a associado e vamos também atualizar as atividades da associação para que, proativamente, possamos continuar a representar mais os jovens empresários.
A evolução do ecossistema empresarial é muito acelerada e estes anos pós-pandemia têm demonstrado isso mesmo. Mas também têm trazido desafios, ora pela Guerra na Ucrânia, pela instabilidade no Médio Oriente, ora pela incerteza política global, ou pela já tradicional pouca consistência política em Portugal. As empresas e os empresários são o motor de dinamização da sociedade e é fundamental que o país lhes permita mais previsibilidade, estabilidade e condições de crescimento. Não falo tanto para o grupo das grandes empresas que, por si só e pela sua grandeza, são capazes de cruzar as marés mais difíceis. Falo sim, focado no conjunto das micro, pequenas e médias empresas que precisam de um ecossistema e ambiente mais favorável ao seu crescimento.
Mas não só. Muitos dos jovens empresários de hoje são também aqueles que decidiram agarrar uma ideia inovadora e lançar a sua start-up. Incluem-se no grupo das micro, pequenas e médias empresas que referi, mas têm muitas vezes o desafio extra da necessidade de financiamento e da incerteza sobre a transformação da ideia em real valor de negócio. O nosso país não é dos piores no incentivo à criação de novas empresas, mas há sempre mais a fazer, principalmente se quisermos competir com países cujas economias e mercados são, por si só, mais atrativas e facilitadoras do desenvolvimento de negócios.
É imperativo, em conjunto com todas as entidades competentes, olhar verdadeiramente para a inovação que se cria nas Universidades em Portugal. Há muito boas ideias que ficam pelas prateleiras porque o país não está tão amigo da inovação quando poderia estar. É na inovação que o futuro estará sustentado; é na transição de conhecimento que mais valor se poderá gerar ao país, dinamizando e aproveitando o muito talento que Portugal tem e pode ter.
Não ficamos indiferentes às afirmações de Ursula von der Leyen, Presidente da Comissão Europeia, no seu recente discurso com um enfoque muito grande na necessidade de aumentar a competitividade das PMEs Europeias. “Precisamos tornar os negócios mais fáceis e mais rápidos na Europa”, são palavras suas com as quais concordamos na íntegra.
A redução de burocracia, a maior agilidade de processos, incentivar a inovação são essenciais e promessas a que estaremos atentos; apelando a que o Governo português seja também ágil e rápido no desenvolvimento das medidas que nos conduzam a esses objetivos. Um jovem empresário português hoje não olha apenas para o mercado português como alvo; muitos começam mesmo pela totalidade do mercado europeu e outros rapidamente terão condições de crescer a um nível mais global, mas para isso é fundamental que as empresas portuguesas possam competir melhor com as suas concorrentes europeias. É fundamental uma fiscalidade mais atenta às necessidades das PMEs portuguesas em crescimento, das start-ups e scaleups; incentivando por esta via o seu crescimento.
O talento humano é um recurso fundamental em todas as empresas e o seu custo real faz com que muitas vezes as empresas portuguesas percam competitividade em comparação com as empresas de outros estados europeus. É por isso essencial uma fiscalidade nacional atenta e focada nas necessidades das empresas. Temos de passar a olhar a fiscalidade como um incentivo ao crescimento, em vez de sentirmos, empresários e trabalhadores, que se trata de um fardo. Queremos pagar impostos, sim; mas queremos principalmente pagar melhores impostos.
Ao mesmo tempo, apelamos a que o Estado esteja mais atento ao tecido empresarial português e defina políticas de «procurement» que incentivem a compra de produtos e serviços resultantes da inovação nacional. O que dizemos, claramente, é que se o Estado tem necessidade de comprar, de se modernizar e/ou de recorrer a determinados serviços o faça mais junto das empresas nacionais e que esse processo, no caso específico de empresas inovadoras em fase de crescimento, seja feito também com um sentido de apoio a esse mesmo crescimento. Pessoalmente, vou vendo vezes a mais o caso em que são os clientes estrangeiros a valorizar mais rápido e primeiro aquilo que se desenvolve em Portugal. Precisamos de um Estado que afirme que o que é «nacional é bom» e que seja estratégico nas suas ações, sendo o primeiro a incentivar e a estimular o tecido empresarial português.
Numa recente entrevista, registámos as palavras do Exmo. Sr. Ministro dos Assuntos Parlamentares, onde afirmou a “predisposição do Governo governar com todos, e que isso não se reduz ao espectro partidário”. Exmo. Sr. Secretário de Estado, Carlos Abreu Amorim, Senhoras e Senhores Deputados e demais representantes de entidades governamentais: A ANJE tem opinião própria e contributos a dar. E está totalmente disponível para os partilhar com o Governo e com todos os demais partidos e entidades portugueses.
Mas hoje Portugal não vive só dos jovens empresários portugueses. São cada vez mais os empreendedores oriundos das mais variadas regiões do globo que escolhem Portugal para se estabelecerem e daqui lançarem os seus negócios ao mundo. Pretendemos incluir nas atividades e ações da ANJE esta comunidade empresarial estrangeira, integrá-la, procurar sinergias e ajudar a que jovens empresários portugueses e não-portugueses possam colaborar mais. As distâncias hoje são cada vez mais reduzidas e o contexto internacional tem muitas oportunidades para as quais devemos olhar.
A ANJE integra a FIJE – Federação Iberoamericana de Jovens Empresários, onde tenho vindo a estar enquanto Vice-Presidente Ibéria e onde tenho observado um conjunto de oportunidades potenciais de grande valor. A ANJE também integra a YES For Europe, que reúne os jovens empresários europeus, e, por intermédio desta organização, foi-me possível participar nos eventos da Aliança de Jovens Empreendedores do G20, primeiro na índia, em 2023, e depois no Brasil, este ano. Nesses dois momentos ficou muito claro que a oportunidade de conexão internacional é imensa. E vi e experienciei como pode ser facilitado e dinâmico o contacto com outros mercados integrando estas redes.
É por isso que iniciaremos o processo de adesão da ANJE à Aliança de Jovens Empresários do G20, como membro observador. Naturalmente que Portugal não é um país membro do G20, mas pelo trabalho e reconhecimento que a ANJE tem tido nestes anos, é-nos possível candidatarmo-nos a um lugar na mesa dos jovens empresários dos países com as economias mais evoluídas do mundo, passando a ter uma representação diretamente portuguesa. A presença da ANJE nestes fóruns internacionais passará a permitir a abertura direta de um corredor para todos os países com cujas associações de jovens empresários temos conexão. O objetivo é fazer da ANJE um hub de apoio ao jovem empresário no seu processo de prospeção e abordagem aos mercados internacionais, ultrapassando burocracias e barreiras e falando diretamente com os jovens empresários «iguais a nós». Queremos ajudar a descomplicar; a acelerar e a incentivar o crescimento dos jovens empresários portugueses no mundo.
Ao mesmo tempo, abriremos portas à conexão de empresários estrangeiros oriundos das redes das associações empresariais jovens de outros países e também a investidores que possam, de modo rápido e ágil, conhecer companhias portuguesas em que possam querer investir. O incentivo ao investimento e a proximidade entre empresários e investidores é muito importante nas diversas fases de surgimento e crescimento das empresas. Na ANJE pretendemos ser a plataforma que facilite e estimule a ligação entre investidores e os jovens empresários.
O meio empresarial português ainda é marcadamente masculino; e não temos dúvidas de que uma maior paridade entre homens e mulheres ajudará a termos empresas mais adaptadas e geradoras de melhor impacto na sociedade. O papel das Mulheres nas empresas e o incentivo ao empreendedorismo feminino é uma das nossas prioridades. Sabemos que nem sempre é simples ser mulher e empresária e entendemos que é mais do que tempo de termos na ANJE um papel mais ativo neste tema. Fá-lo-emos com ações concretas, reflexões e propostas que possam a ajudar a construir um ambiente empresarial mais amigável e inclusivo. Sei, porque o vejo diariamente, o quanto é complexo para as mulheres equilibrarem a exigência do trabalho de alta responsabilidade, com a vida familiar e pessoal. Não devemos ter receio em assumir que, por diversos fatores, é mais fácil para os homens serem empresários e empreendedores do que é para as mulheres. Queremos, na ANJE, assumir esse papel de dinamismo do empreendedorismo feminino, sem fundamentalismos, mas com ações que possam ter resultados. E queremos começar por dentro; por incentivar a que mais mulheres jovens empresárias possam associar-se à ANJE. Foi difícil para mim constituir a lista que hoje tomou posse para dirigir a associação e integrar mais mulheres empreendedoras. Com as que estão agora eleitas, e com as que incentivaremos a associar-se, trabalharemos no sentido de tornar o mundo empresarial mais equilibrado e justo. Estaremos, na linha da frente neste tema.
Mas há mais, o mundo complexo de hoje exige que as empresas tenham em consideração metas concretas de sustentabilidade e desenvolvimento consciente. O mundo é-nos emprestado pelos nossos filhos e as empresas devem contribuir para que ele melhore, e não o contrário. Por isso, quero falar sobre uma responsabilidade crucial que todos nós, como jovens empresários, temos de ter em consideração: a adoção de práticas ESG (focadas no meio ambiente, no impacto social e na governança) e o alinhamento com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável. Num mundo onde os desafios ambientais e sociais são cada vez mais prementes, as nossas ações podem ter um impacto significativo. As empresas que adotam esses objetivos destacam-se frequentemente no mercado, atraindo investidores, clientes e talentos que valorizam a sustentabilidade. Há muito que pode ser trabalhado nesse sentido e assumiremos na ANJE essa bandeira.
Desde 1986 que a ANJE representa os jovens empresários portugueses, assumindo vários momentos e ações marcantes ao longo destes 38 anos de existência. O que a ANJE faz ao nível da formação é uma referência que queremos enriquecer e melhor adaptar às necessidades das empresas e dos empresários. Os eventos da ANJE tornaram-se uma marca relevante na nossa sociedade e é inegável a grandeza e a força de momentos como o Prémio Jovem Empreendedor, a Feira do Empreendedor e do Portugal Fashion. Nem sempre é simples manter vivos eventos que se tornam tradições; mas é importante adaptá-los aos tempos. Tem sido pública a dificuldade de realização do Portugal Fashion nos últimos anos; temos esperança e vontade de que rapidamente o evento volte a acontecer e seguramente acontecerá. Resultará do excelente trabalho de reconfiguração, reestruturação e adaptação que a direção que hoje deixa de liderar a ANJE nos deixa.
Toda a ação da ANJE manterá o sentido de responsabilidade que herdamos da direção que hoje cessa funções; realizaremos as ações que forem sustentáveis, equilibradas e que, acima de tudo, resultem em impacto positivo para as empresas e para o país.
Sabemos que os 38 anos da ANJE também nos trazem um lastro de tempos em que, muitos de nós que assumimos hoje funções, ainda nem sequer éramos jovens empresários. O que afirmamos é claro: somos jovens empresários que assumimos as nossas responsabilidades, cientes das dificuldades e conscientes de que tudo faremos na defesa dos interesses da ANJE e, sobretudo, de todos os jovens empresários portugueses.
Queremos que a ANJE represente com clareza os agentes de mudança que são os jovens empreendedores; queremos contribuir com palavra própria e independente para uma sociedade que potencie o empreendedorismo e a ação empresarial; queremos contribuir para desconstruir fronteiras e barreiras e incentivar os negócios portugueses a internacionalizarem-se; queremos mostrar que este caminho se pode fazer com ética empresarial, com respeito e com atitude positiva e inclusiva.
Trabalharemos de portas abertas e em conjunto com o quadro de colaboradores da ANJE que são sempre o garante da concretização do plano que determinamos.
Muito obrigado a todos por estarem connosco nesta jornada.
Contem connosco!
Somos ANJE!”